Há todo um ramo da ciência social que estuda os efeitos psicológicos e fisiológicos do humor e do riso no cérebro e no sistema imunológico – é chamado de gelotologia.
As descobertas neste campo demonstraram que o humor, o riso e a diversão liberam a tensão física e cognitiva, o que pode levar à flexibilidade perceptual, um componente necessário da criatividade, ideação e solução de problemas.
Então, para aproveitar ao máximo os processos de inovação, os líderes verdadeiramente criativos também precisam dominar as dinâmicas sociais de humor!
Mas no mundo da liderança, o humor tem sido tipicamente considerado como uma manifestação de personalidades individuais e, portanto, uma atividade espontânea e não replicável. Muitos acreditam que o humor não pode ser adquirido, aprendido e nutrido.
Os líderes qualificados, aqueles que chamamos de “estrategistas”, compreendem a utilidade do humor para impulsionar a inovação.
É claro que o humor pode ser altamente subjetivo, pois o que uma pessoa acha hilariante, outra pessoa pode não perceber dessa forma. Então, conhecer seu público é fundamental.
Estilos de humor
Não é de surpreender que os líderes empresariais que têm uma alta pontuação no uso eficaz do humor como uma ferramenta para impulsionar a inovação, também tendem a ter uma alta pontuação em inteligência emocional.
Os líderes criativos também têm uma apreciação intuitiva dos quatro estilos de humor e entendem como esses estilos podem ser nutridos ou, às vezes, reduzidos, dependendo do caso.
Os três primeiros estilos geralmente geram emoções positivas, enquanto o quarto é mais tipicamente associado a emoções negativas e, portanto, tem a aplicação mais limitada no que diz respeito à habilitação da flexibilidade cognitiva:
Senso de diversão
Envolve um líder que projeta uma vibração energética, positiva e divertida, com uma visão geralmente humorística.
Envolve também a capacidade de apreciar o humor e a ludicidade das pessoas, isto é, a forma de desenvolver a criatividade, os conhecimentos, através de jogos, música e dança.
Autodepreciativo
É o ato de um líder rir de si mesmo por meio da autodepreciação, da excessiva modéstia ou subestimando suas próprias conquistas.
O objetivo é reduzir a hierarquia e a distância do poder, garantindo que as ideias venham de todos os níveis.
Mas, embora esse tipo de humor possa reduzir a distância social e fazer com que os líderes pareçam mais colaborativos, participativos e abertos a seus colaboradores, eles não devem exagerar.
Estudos têm mostrado que a autocrítica humorística funciona muito menos como uma ferramenta para se envolver com colegas e superiores, e pode até reduzir a credibilidade de uma pessoa com os subordinados, se usada excessivamente.
Humor social
É sobre impulsionar a interação humana e é usado por um líder para melhorar os relacionamentos.
Geralmente envolve piadas ou histórias compartilhadas como uma ferramenta para reduzir a tensão interpessoal, aumentar a sociabilidade e promover a abertura.
O humor social é praticado como parte do processo de pensamento que encoraja ideias primárias a criar raízes. Até mesmo as perspectivas mais absurdas são adotadas e as pessoas são encorajadas a adiar qualquer julgamento.
Os membros da equipe zombam abertamente dos fracassos relacionados ao processo de ideação de uma maneira que alimenta sua contribuição coletiva e criativa.
O humor positivo também pode ser utilizado para reduzir a pressão do estresse associada aos prazos, não para fazer com que objetivos ou desafios desapareçam, mas para melhorar o moral e aumentar a solidariedade de propósito.
Humor forte
Na maioria das vezes implica sarcasmo ou cinismo e é usado por um líder como abatimento, como uma ferramenta para o controle hierárquico, como um sinal de domínio ou para encorajar a conformidade com as normas comportamentais do grupo.
Do ponto de vista da medicina, a inovação é uma das poucas áreas de negócios em que o humor forte, como o sarcasmo, pode render dividendos, desde que sua prática seja limitada a ambientes em que as pessoas já conheçam, confiem e gostem umas das outras.
Pesquisas mostram que receber comentários sarcásticos e outras formas de humor forte de colegas de trabalho confiáveis pode estimular a criatividade sem gerar conflitos.
A Pixar Animation Studios entende o poder de um feedback tão forte dos colegas. Ela criou o que chama de “Brain Trust – confiança cerebral”, consistindo de um grupo de diretores altamente talentosos.
Quando um diretor e um produtor precisam de ajuda, convocam o grupo e mostram a versão atual de um filme em andamento.
Isto é seguido por uma discussão ardente que pode durar até duas horas, desbloqueando sugestões provocativas e críticas construtivas.
As sessões são frequentemente pontuadas por risadas, mas ninguém faz nenhum esforço para ser educado. Isso funciona porque todos os participantes passaram a confiar e respeitar uns aos outros.
Apesar disso, a liderança observa ativamente para garantir que nenhuma linha vermelha seja cruzada. Nessas interações, o humor forte nunca é usado como ataque, como uma ferramenta para o controle hierárquico, ou como um sinal de dominância.
Vantagens do humor saudável
Indivíduos com alto senso de humor tendem a experimentar menos estresse do que indivíduos com pouco senso de humor, mesmo em situações em que ambos enfrentam desafios semelhantes.
Certas empresas levam esse assunto tão a sério que não promovem seus líderes com base na antiguidade, mas por seu histórico de orquestrar interações sociais positivas entre as pessoas, das quais o humor é um componente crítico.
A cultura de trabalho divertida e repleta de humor nas empresas pode começar no nível de equipe ou departamental em qualquer organização.
Pode ser uma abordagem útil para reduzir a hierarquia, aumentando a abertura e aumentando o pensamento divergente.
Quando se trata de impulsionar a inovação, o foco predominante deve estar nos estilos de humor que geram emoções positivas.
Mas também existem regras tácitas sobre o humor aceitável. O cincismo, o ridículo, o humor racista e sexista são considerados completamente inapropriados.
O humor inapropriado pode sufocar a confiança criativa das pessoas em qualquer organização, sem mencionar a contribuição para reduzir o moral, o absenteísmo, a elevação da concorrência interna disfuncional e até mesmo danos à reputação da empresa.
As descobertas no campo da gelotologia também explicam por que empresas como Google e Lego estão investindo na criação de espaços de trabalho lúdicos e divertidos.
Os escritórios são projetados para incentivar a diversão e a liberdade de expressão, com os colaboradores muitas vezes projetando seus próprios espaços de trabalho.
Os líderes empresariais que estão moldando o futuro estão redescobrindo o poder do humor como um fator vital para o sucesso organizacional.